Aos
pais e educadores
As crianças são, normalmente, cheias de
disposição e energia. Por isso, é raro encontrar uma criança saudável que seja
genuinamente preguiçosa. O que frequentemente encontramos são crianças que não
se envolvem em certas atividades ou em certas tarefas que se esperam delas.
Isso pode ter uma série de motivos. Muitas vezes, elas não conseguem ver aquela
tarefa como importante ou necessária e acabam por priorizar outra mais
prazerosa. É comum os pais se queixarem de que seus filhos não querem fazer
suas tarefas ou enrolam até o último momento para faze-las. Outros reclamam que
eles se deixam ficar horas e horas em frente à TV ou jogando videogame ao invés
de brincar com outras atividades. Atitudes como essas não começam de uma hora
para outra, elas são construídas. Não podemos deixar as crianças durante anos
diante da TV – só porque isso torna mais fácil controlá-las – e, de uma hora
para outra, querer que elas saiam para brincar “lá fora”... O jogo eletrônico
oferece um tipo de satisfação muito mais imediata que as brincadeiras
tradicionais. Uma criança não se habitua a elas de uma hora para outra. Para
quem joga videogame ou vê TV o dia inteiro, outros tipos de brinquedos parecem
ser muito chatos e, além de monótonos, parecem exigir muito mais do cérebro
delas. Ouço queixas semelhantes em relação à leitura. Ela também não é páreo
para esse tipo de concorrência. É claro que os colegas delas vêem TV e jogam
jogos. Proibi-las pode fazer com que fiquem deslocadas, fora das conversas. Não
queremos isso. Mas você bem que pode restringir seus horários nessas
atividades, não é? Você quer que seus garotos brinquem ao sol? Você quer vê-los
lendo, estudando e desenhando? Ótimo! Comece por lhes dar atenção e não
deixa-los sozinhos com a TV como babá. Aproveite para curtir seus filhos. Use
seus horários de folga para brincar com eles. Deixe o futebol, o clube, a
internet, o bar e os amigos um pouco de lado. Educar crianças é um negócio
sério. Ou você se posiciona, ou não vá reclamar depois. Dê o exemplo: desligue
a TV, saia do sofá e vá jantar à mesa com a família. Deixe a novela de lado, ou
o reality show, e leia um livro. Se você não mostrar que ler é importante, a
criança nunca vai levar a sério o que você diz. Se elas tiverem que lidar com
um cronograma mais rico em atividades e você estiver lá como companhia, talvez
descubram como é bacana ter um dia cheio de coisas interessantes para fazer...
Xô, preguiça! Deixe a delas de lado um pouco e comece pela sua!
Cláudio
Paixão Anastácio de Paula é psicólogo clínico,
doutorou-se em psicologia pela USP, é membro da International Association for
Jungian Studies e é professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG.
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