segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Projeto Valores Humanos - O que não cabe no meu mundo - Preguiça

Aos pais e educadores

As crianças são, normalmente, cheias de disposição e energia. Por isso, é raro encontrar uma criança saudável que seja genuinamente preguiçosa. O que frequentemente encontramos são crianças que não se envolvem em certas atividades ou em certas tarefas que se esperam delas. Isso pode ter uma série de motivos. Muitas vezes, elas não conseguem ver aquela tarefa como importante ou necessária e acabam por priorizar outra mais prazerosa. É comum os pais se queixarem de que seus filhos não querem fazer suas tarefas ou enrolam até o último momento para faze-las. Outros reclamam que eles se deixam ficar horas e horas em frente à TV ou jogando videogame ao invés de brincar com outras atividades. Atitudes como essas não começam de uma hora para outra, elas são construídas. Não podemos deixar as crianças durante anos diante da TV – só porque isso torna mais fácil controlá-las – e, de uma hora para outra, querer que elas saiam para brincar “lá fora”... O jogo eletrônico oferece um tipo de satisfação muito mais imediata que as brincadeiras tradicionais. Uma criança não se habitua a elas de uma hora para outra. Para quem joga videogame ou vê TV o dia inteiro, outros tipos de brinquedos parecem ser muito chatos e, além de monótonos, parecem exigir muito mais do cérebro delas. Ouço queixas semelhantes em relação à leitura. Ela também não é páreo para esse tipo de concorrência. É claro que os colegas delas vêem TV e jogam jogos. Proibi-las pode fazer com que fiquem deslocadas, fora das conversas. Não queremos isso. Mas você bem que pode restringir seus horários nessas atividades, não é? Você quer que seus garotos brinquem ao sol? Você quer vê-los lendo, estudando e desenhando? Ótimo! Comece por lhes dar atenção e não deixa-los sozinhos com a TV como babá. Aproveite para curtir seus filhos. Use seus horários de folga para brincar com eles. Deixe o futebol, o clube, a internet, o bar e os amigos um pouco de lado. Educar crianças é um negócio sério. Ou você se posiciona, ou não vá reclamar depois. Dê o exemplo: desligue a TV, saia do sofá e vá jantar à mesa com a família. Deixe a novela de lado, ou o reality show, e leia um livro. Se você não mostrar que ler é importante, a criança nunca vai levar a sério o que você diz. Se elas tiverem que lidar com um cronograma mais rico em atividades e você estiver lá como companhia, talvez descubram como é bacana ter um dia cheio de coisas interessantes para fazer... Xô, preguiça! Deixe a delas de lado um pouco e comece pela sua!



Cláudio Paixão Anastácio de Paula é psicólogo clínico, doutorou-se em psicologia pela USP, é membro da International Association for Jungian Studies e é professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG.




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